A luz.
Lá, sob a porta,
a perder-se de si
e, ao
fundo,
a foto em preto e branco
a perder-se de nós
e desaproximam-se no vácuo
as formas da voz.
E se movem.
Daqui eu vejo a imagem
imprecisa.
O que vês, meu bem?
O que soa estranho?
Oh, Odete, que falta faz o
que
não se aprende na escola
ou nas dobras da lama ou do limo
ou no avesso do instante
Foi por isso que você voltou?
Tomo o seu tempo?
Não me deixe,
por favor!
Tomar o meu tempo?
São poucas as linhas da meada
São urdiduras nas palavras medidas
no arcabouço ou no calabouço
a ferir-me desde dentro.
José Carlos Sant Anna,
28 de outubro de 2025

Olá, amigo José Carlos, gostei muito deste magnífico poema,
ResponderExcluiruma amostra do poema moderno, escrito com maestria.
Bravo, caro amigo José Carlos! Votos de uma excelente semana,
com muita paz, saúde e felicidade.
Daqui eu vejo um exímio poeta a costurar a contraface do agora , das coisas que não são esperadas, mas se movem, maturam, demoram e o instante nega. E esse avesso a guardar os fios cruzados , as costuras ocultas e uma continuidade sem bordas. Não se aprende conter palavras quem é inclinada a reação febril e apaixonada.
ResponderExcluirAh ,Odete ! não vá perder o fio da meada ... rs
Inconfundível seu estilo Sant Anna e muito bom ! fica o abraço.
A luz sob a porta. A foto a preto e branco. As formas da voz. A imagem imprecisa. No avesso do instante o seu poema é como as raízes que se enredam nos retratos de família e urdem no tempo outro tempo e nos deixam espreitar a memória sem desviar o olhar. Tão belo, o seu poema meu Amigo José Carlos.
ResponderExcluirTudo de bom.
Um beijo.
Perderse a uno mismo desde el vacío y las distintas formas de la voz.., mejor encontrarnos en las emociones que surgen de cada verso y ansiar volver para seguir leyendo
ResponderExcluirUn abrazo.
Um apelo que é feito por quem prescinde da solidão.
ResponderExcluirAbraço de amizade.
Juvenal Nunes
Boa tarde José Carlos Sant Anna,
ResponderExcluirEste poema desfia uma luz ténue que atravessa memória, ausência e inquietação.
A voz poética avança como quem procura o contorno do indizível, aquilo que nem a escola, nem o tempo, nem a lama ensinam.
Há um diálogo suspenso, quase espectral, em que a imagem se desfaz e o afecto tenta permanecer.
A meada é curta, mas densa, e cada verso parece puxar delicadamente o leitor para dentro desse calabouço interior onde a palavra é ferida e também claridade. Um texto que comove pela sugestão e pelo silêncio.
Sempre muito criativo.
Boa semana com saúde e Poesia.
Deixo um beijo
:)
Por vezes a vida de enovela numa meada que nos embaraça...
ResponderExcluirGostei muito destas palavras bem urdidas.
Beijinhos e boa semana!
Este é um poema profundamente lírico e fragmentado, cheio de imagens de perda, distância e uma busca aflita por compreensão e conexão. A voz poética está em um estado de vulnerabilidade e reflexão intensa.Excelente! Abraços
ResponderExcluirBoa noite meu querido amigo!
ResponderExcluirEros, que texto ! Ele vibra como se fosse sussurro e ferida ao mesmo tempo.
A luz que se perde, a foto que se desfaz, a voz que se desaproxima… tudo vai criando esse vazio que não é silêncio, é ausência habitada.
O diálogo com Odete é quase um pedido de socorro emocional: uma conversa entre sombras, lembranças e o que não se aprende em lugar nenhum só na perda.
E essa última parte… “urdiduras nas palavras medidas… a ferir-me desde dentro” é de uma beleza triste que fica muito depois da leitura.
É poesia que dói devagar.
Beijinho
Nanda
Olá, amigo José Carlos!
ResponderExcluir"Oh, Odete, que falta faz o que
não se aprende na escola"
Vou pelo lado bom da afirmação que recortei.
Tem lugares e pessoas fora da escola que nos ensinam muito.
Tenha um dezembro abençoado!
Abraços fraternos
Um belíssimo poema que respira tanta saudade...
ResponderExcluirLindo, e quem diz que na tristeza não há beleza?
Maravilhoso!
Bjs, querido amigo, um lindo fim de semana que
está a caminho.
Que dizer desse emaranhado de emoções que desafia a nossa compreensão? É dor, é saudade, é melancolia... Desafiar o tempo que se enforma nas dobras dos dias, uma meada que se enovela e deixa a sua trama no que se aprendeu ou desaprendeu nas vivências da vida. A lama ou o limo aderem nesse passado tão vivo e desafiador...
ResponderExcluirMeu amigo, José Carlos, sempre a admirá-lo pela sua sensibilidade e talento.
Passando agora ao miúdo, ele já viu que a escola é coisa boa, pelo menos por enquanto, e até já pede para ir :))
Tudo de bom lhe desejo, amigo.
Beijinhos
Olinda
Ola,
ResponderExcluirInquietante e profundo um poema de muita delicadeza,
A ausência e a saudade marcando a dor do poeta.
Gostei muito.
Deixo um beijo
Adorei muito seu poema. Estou a saborear e viajar no seu poema.
ResponderExcluirPassa lá no Pensar com Leveza tem postagem nova e gostaria de saber sua opinião sobre o tema.
Abraços.
Há poemas que não se leem,desemaranham-se. A meada é um destes: conduz-nos pelo fio tenso da memória e do não-dito, onde a luz hesita e a voz se desfaz nas margens do silêncio.
ResponderExcluirA aparente imprecisão é a própria arquitetura do texto, espelho de uma ausência que se move e interroga.
Entre a palavra medida e a ferida aberta, o poema faz do tempo um território íntimo, onde aquilo que não se aprende, nem na escola nem na vida bruta, é justamente o que mais nos falta.
obrigada pelas visitas....