domingo, 30 de novembro de 2025

Meada

 


A luz. 

Lá, sob a porta,

a perder-se de si 

e, ao fundo, 

a foto em preto e branco

a perder-se de nós


e desaproximam-se no vácuo

as formas da voz. 


E se movem.

 

Daqui eu vejo a imagem imprecisa.

 

O que vês, meu bem?

O que soa estranho?

 

Oh, Odete, que falta faz o que 

não se aprende na escola 


ou nas dobras da lama ou do limo

ou no avesso do instante 


Foi por isso que você voltou? 

Tomo o seu tempo? 


Não me deixe, 

por favor!

 

Tomar o meu tempo?

 

São poucas as linhas da meada


São urdiduras nas palavras medidas

no arcabouço ou no calabouço

a ferir-me desde dentro.

 

José Carlos Sant Anna,

28 de outubro de 2025


Um comentário:

  1. Olá, amigo José Carlos, gostei muito deste magnífico poema,
    uma amostra do poema moderno, escrito com maestria.
    Bravo, caro amigo José Carlos! Votos de uma excelente semana,
    com muita paz, saúde e felicidade.

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Meada

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