Até quis escrever igualmente a
dois dias
uma canção para um café "correto"
que esfriava na xícara. E assim
escreveria
a canção para subverter
as nuances da moça de
Mangabeira.
Sem engano, porque há de ser
assim,
embora até então
eu não soubesse a razão do
sentido.
E com menos ou mais poesia,
sob um sol de inverno a
espreitar
a luz que cintila no infinito,
diria do sortilégio que é um belo
horizonte
para travesti-lo sob o sol frio
deste dia úmido.
Ao escrevê-lo estaria eu parafraseando o papa
na sua voz branca, em gesto
antigo,
na praça que leva o seu nome nas
alterosas,
mas o vento afastou para longe
o prazer da rubiácea sem
arrefecer seu perfume,
mantendo a obstinação do
presente.
Então, confesso, talvez
esteja na hora
de pedir outro café, tirado na
hora,
e procurar, entre nuvens brancas,
as palavras perdidas
para fechar o poema cuja chama
me queima.
José Carlos Sant Anna,
5 de maio de 2025.
Um poema bonito, dedicado e sutil ,onde se pressente que com a força da chama e o sortilégio da canção, o vento vai abrandar na praça da Mangabeira. E que venha esse inverno e muitos outros cafés coados, sob a luz de um belo horizonte. Parabéns, JC .
ResponderExcluirUm sol de inverno a espreitar a luz que cintila no infinito. Um dia húmido. As palavras perdidas. Um café tirado na hora cujo aroma chegou aqui juntamente com o seu poema cheio de subtilezas e mistério. Tão belo meu Amigo José Carlos.
ResponderExcluirTudo de bom para si.
Um beijo.
Com um lirismo discreto e elegante, Levado pelos ventos conduz-nos por entre aromas de café, silêncios suspensos e luzes de um inverno quase onírico, o autor entrelaça o quotidiano e o simbólico numa linguagem de subtilezas, em que cada imagem parece sussurrada pelo tempo. Uma poesia que paira como neblina sobre o presente, onde o desejo de nomear o indizível se mistura ao perfume persistente da rubiácea, e à busca contínua pelas palavras perdidas.
ResponderExcluirDeixo um beijo.
:)
Caro Eros,
ResponderExcluirHá algo neste poema que não se lê apenas com os olhos lê-se com os ouvidos do tempo e com a pele da lembrança. O café “correto” que esfria torna-se metáfora de tudo aquilo que tentamos aquecer com palavras, mas que insiste em nos escapar como a moça de Mangabeira, com suas nuances que desafiam o entendimento e nos convidam à subversão do óbvio. O poema caminha como quem procura sentido sem precisar encontrá-lo por completo. E é belo o modo como o “sol de inverno” e o “belo horizonte” se entrelaçam, como se a paisagem fosse sempre uma travessia emocional algo que cintila, mas se veste de frio. A imagem do papa e sua voz branca em gesto antigo empresta à cena uma solenidade quase litúrgica, num tempo que mistura fé, ritual e poesia. Mas é o perfume da rubiácea persistente mesmo após o prazer ter sido levado pelo vento que dá ao texto sua permanência. É como se a essência das coisas resistisse, mesmo quando tudo mais já se dispersou. E então, surge o gesto mais simples e mais humano: pedir outro café. Voltar à origem. Continuar procurando as palavras perdidas entre nuvens como quem aceita que escrever é uma forma de queimar-se em silêncio. Obrigada por essa partilha que aquece, mesmo quando fala de um café que esfria.
Com admiração,
Fernanda!
Ah! Completou a publicação. Um espaço enorme
ResponderExcluirà espera de alguma coisa mais (?) e o seu nome,
indispensável. Mas está tudo perfeito.
E eu, pobre mortal, não sei como comentar este seu
poema. Belo, sinuoso, com as palavras perdidas por
aí, desgarradas. Da moça de Mangabeira tendo a ir
buscá-la a Raquel de Queiroz. E o papa com o seu gesto
antigo, e a praça com o seu nome...Praça de São
Pedro? Tire-me dessa agonia.
O que me salvaria é esse cafezinho tirado na hora.
Hoje de manhã fiz um café de que não gostei. Gosto
de o tomar com leite, soube-me a amargo.
Há o vento, por vezes arrasador. Conheço-o bem. Cresci
com ele, por vezes quase que nos arrastava.
Mas essa poesia, esse savoir-faire ou écrire, belo
e instigante, caíram-me mesmo bem.
Devo dizer, caro José Carlos, que desapareceu o
comentário que fiz há pouco, bem pior que este.
Peço-lhe desculpas.
Grande abraço.
Olinda
José Carlos
ResponderExcluirNo meu telemóvel o seu post aparece com grande espaço em branco e sem o seu nome. No PC vê - se de outro modo.
Peço que releve o meu tom de brincadeira e não publique o comentário.
Abraço
Olinda
Tão espontâneo, tão natural, o seu pedido, minha amiga Olinda, por isso o deixei. Peço-lhe desculpas. Publicá-lo revela que somos de carne, osso e pescoço, risos. Não perdemos a seriedade porque houve um incidente: leve como uma pluma. A praça se chama Israel Pinheiro, mais conhecida como Praça do Papa (lá esteve o Papa Francisco rezando uma missa). Na sua homilia, com o humor que o caracterizava, ele disse bem descontraidamente: “Que belo horizonte”.
ExcluirFazia um jogo de palavras com a capital do estado de Minas Gerais que se chama Belo Horizonte e a vista que a praça oferece. Um mirante sem igual para a cidade.
Em julho, é bom que saibamos os ipês florescem dão mais beleza à região. E o Palácio do Governador fica ao lado da Praça.
Muito obrigado pelos cuidados e atenção!
Beijinhos, minha amiga Olinda!
Caro José Carlos
ExcluirEstendi-me ao comprido, está visto.
Mas também foi mais uma oportunidade
para aprender com o seu saber e que
tem grande valia para mim.
Agradeço a sua generosidade.
Beijinhos
Olinda
Ah, poetas, até para não escrever um poema, escrevem poemas sobre poemas que querem escrever"
ResponderExcluirE isso mesmo, Eduardo, enquanto a água aquece, o poema chama por mim.
ExcluirOlá, amigo José Carlos, muito bom ter você de volta,
ResponderExcluircom suas crônicas e poemas, escritos com maestria
do mestre da Bahia.
Uma ótima semana, com saúde e paz.
Grande abraço.
Olá
ResponderExcluirQue poema bonito.
Que bem soube este café, em que o aroma são brisas doces que nos
despertam os sentidos.
Gostei muito.
Abraço****
Olá, Jose Carlos
ResponderExcluirEnquanto espero pelo café, vou lendo sua poesia cheia de encantos como um belo horizonte e o sol de inverno. Enquanto leio sua poesia penso sim na paz de gaza, na da Ucrânia e nas favelas do Rio de janeiro. Desejo um final de semana feliz e abençoado por todos os deuses existentes.
beijos
Muito bem dito! Gostei de ler!
ResponderExcluirBjxxx,
Pinterest | Instagram | Linkedin
Um poema que precisa de ser lido mais que uma vez. Foi o meu caso, sendo que a cada leitura ia voando noutros sentidos. Ou seja, o seu poema é riquíssimo, obriga o leitor a entender os caminhos que vão surgindo a cada verso.
ResponderExcluirOs meus aplausos, excelente poema.
Boa semana.
Um abraço.
Olá, querido amigo José Carlos, o cafezinho é o salvador das conversas de cafeteria, de botiquins... quando o papo se esgota:
ResponderExcluir- Hei moça... traz outra rodada de cafezinho, mais 3 capuccinos e 4 expressos!
E lá vem mais cafezinho com renovados papos! E a roda gira contente!
Poema inspirador, querido amigo!
Uma boa semana, com saúde e paz!
Beijo, amigo.
Me gustó mucho la naturalidad del poema. mientras leía me parecia oler su aroma y ver subir el humo en espiral
ResponderExcluirUn placer volver a leerte Juan Carlos
Un abrazo
ResponderExcluirQue beleza de escrita, amigo! Essa sua capacidade de transformar o cotidiano em poesia é algo que sempre me encanta.
A ideia de uma "canção para um café 'correto' que esfriava na xícara" já me pegou. É tão real e, ao mesmo tempo, tão poético! A forma como você entrelaça o desejo de escrever, a subversão da "moça de Mangabeira" e a busca pelo sentido é fascinante.
E esse "sol de inverno a espreitar a luz que cintila no infinito" é uma imagem poderosa demais. A maneira como o vento afasta o prazer da rubiácea (o café, que sacada genial!) mas não o perfume, mantendo a obstinação do presente, é uma metáfora que me fez parar e reler.
No fim, essa confissão de "talvez esteja na hora de pedir outro café, tirado na hora, e procurar, entre nuvens brancas, as palavras perdidas para fechar o poema cuja chama me queima" é a cereja do bolo. É a própria essência do processo criativo, com a urgência de capturar a inspiração antes que ela se dissipe.
Você me inspira a olhar o meu próprio café com outros olhos! Adorei demais!
Se já comentei... desconsidere... perdoe a distração amigo
ResponderExcluirQue beleza de escrita, amigo! Essa sua capacidade de transformar o cotidiano em poesia é algo que sempre me encanta.
A ideia de uma "canção para um café 'correto' que esfriava na xícara" já me pegou. É tão real e, ao mesmo tempo, tão poético! A forma como você entrelaça o desejo de escrever, a subversão da "moça de Mangabeira" e a busca pelo sentido é fascinante.
E esse "sol de inverno a espreitar a luz que cintila no infinito" é uma imagem poderosa demais. A maneira como o vento afasta o prazer da rubiácea (o café, que sacada genial!) mas não o perfume, mantendo a obstinação do presente, é uma metáfora que me fez parar e reler.
No fim, essa confissão de "talvez esteja na hora de pedir outro café, tirado na hora, e procurar, entre nuvens brancas, as palavras perdidas para fechar o poema cuja chama me queima" é a cereja do bolo. É a própria essência do processo criativo, com a urgência de capturar a inspiração antes que ela se dissipe.
Você me inspira a olhar o meu próprio café com outros olhos! Adorei demais!