terça-feira, 21 de outubro de 2025

Do meu Diário

 



    Atravesso a claridade úmida desta manhã de primavera. O rastro da chuva escorre pelos vidros das janelas. Eu me abalanço nos longes de mim e Bach me ouve enquanto as notas suaves de suas sonatas se propagam pela sala sem dobras na sua duração. Finjo e sonho. E relembro amores breves trazidos pela vida nas noites brancas como quem salva um afogado. Da minha biblioteca, o Misto-quente me convida para uma degustação em seu grafite urbano. É Bukowski, gentil, gourmet, como dizê-lo?, ainda sóbrio. Na tela do computador se lê um comentário pretensioso que me traz sentida ausência: “O papel do escritor é surpreender o leitor. Pela forma ou conteúdo. Quase sempre você consegue fazê-lo pelas duas. Seja pela força dos diálogos, seja pelo conteúdo, a provocar a estesia no leitor", enquanto alquimista, o vento brinca, rodopia, atropela, murmura, geme, assobia sem querer ir embora dos meus aposentos. Nunca saberei se um dia correremos juntos, eu e o vento, mas vou levando a vida pisando em folhas secas como Nelson Cavaquinho. 

José Carlos Sant Anna,
21 de outubro de 2025

7 comentários:

  1. Qué bonito texto has escrito, Eros, en tu mañana de primavera, con lluvia, aquí otoño, con sol. Me gusta ese balanceo en la distancia tan poético escuchando a Bach. Y qué bonito leer ese tipo de comentarios me parece intenso.

    Que estés pasando un feliz día.

    Un abrazo.

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  2. Boa tarde JC
    Que bela travessia poética entre a chuva e a música, entre o real e o sonho. O texto flui como um improviso de Bach sereno, íntimo, e cheio de pequenas epifanias.
    A delicadeza com que as referências literárias e musicais se entrelaçam revela a maturidade de quem escreve com alma e escuta.
    Adorei!
    Boa semana com saúde.
    Obrigada pelas visitas meu querido Amigo.
    Deixo um beijo
    :)

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  3. Magnífico texto!
    Tal é a vida, recheada de lembranças que povoam nossos pensamentos e nos fazem transitar entre realidades, desejos e fantasias.
    Um abraço, Marli

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  4. Olá, JC, “O papel do escritor é surpreender o leitor. Pela forma ou conteúdo". E você surpreende sempre, amigo! Belíssimo texto.
    A imagem é muito bonita,
    E como você está, JC? E seu parente, melhorou?
    Uma ótima semana pra você, com muita paz e alegria no coração.
    Bjussss 🌹🙋‍♀️

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  5. Olá, amigo José Carlos!
    Também sinto falta de quem escreveu tal vivência poética...
    Lindo poema com sentimento outonal de folhas ressequidas mesmo estando numa climática estranha.
    Intenso e sentimental.
    Tenha dias abençoados!
    Abraços fraternos

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  6. exatamente isso....ótimo texto, abçs https://www.ananicolau.adv.br/

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  7. Há uma festa repentina a espreitar este seu texto onde posso ouvir Bach a par de uma leitura que quero degustar também. Escreve-o numa manhã de primavera em que o vento brinca e rodopia e a luz arde em olhos inocentes. As folhas secas que pisa há-de levá-las a ventania juntamente com todas as angústias. Tão belo!
    Tudo de bom, meu Amigo José Carlos.
    Um beijo.

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