Atravesso a claridade úmida desta manhã de primavera. O rastro da chuva escorre pelos vidros das janelas. Eu me abalanço nos longes de mim e Bach me ouve enquanto as notas suaves de suas sonatas se propagam pela sala sem dobras na sua duração. Finjo e sonho. E relembro amores breves trazidos pela vida nas noites brancas como quem salva um afogado. Da minha biblioteca, o Misto-quente me convida para uma degustação em seu grafite urbano. É Bukowski, gentil, gourmet, como dizê-lo?, ainda sóbrio. Na tela do computador se lê um comentário pretensioso que me traz sentida ausência: “O papel do escritor é surpreender o leitor. Pela forma ou conteúdo. Quase sempre você consegue fazê-lo pelas duas. Seja pela força dos diálogos, seja pelo conteúdo, a provocar a estesia no leitor", enquanto alquimista, o vento brinca, rodopia, atropela, murmura, geme, assobia sem querer ir embora dos meus aposentos. Nunca saberei se um dia correremos juntos, eu e o vento, mas vou levando a vida pisando em folhas secas como Nelson Cavaquinho.

Qué bonito texto has escrito, Eros, en tu mañana de primavera, con lluvia, aquí otoño, con sol. Me gusta ese balanceo en la distancia tan poético escuchando a Bach. Y qué bonito leer ese tipo de comentarios me parece intenso.
ResponderExcluirQue estés pasando un feliz día.
Un abrazo.
Boa tarde JC
ResponderExcluirQue bela travessia poética entre a chuva e a música, entre o real e o sonho. O texto flui como um improviso de Bach sereno, íntimo, e cheio de pequenas epifanias.
A delicadeza com que as referências literárias e musicais se entrelaçam revela a maturidade de quem escreve com alma e escuta.
Adorei!
Boa semana com saúde.
Obrigada pelas visitas meu querido Amigo.
Deixo um beijo
:)
Magnífico texto!
ResponderExcluirTal é a vida, recheada de lembranças que povoam nossos pensamentos e nos fazem transitar entre realidades, desejos e fantasias.
Um abraço, Marli
Olá, JC, “O papel do escritor é surpreender o leitor. Pela forma ou conteúdo". E você surpreende sempre, amigo! Belíssimo texto.
ResponderExcluirA imagem é muito bonita,
E como você está, JC? E seu parente, melhorou?
Uma ótima semana pra você, com muita paz e alegria no coração.
Bjussss 🌹🙋♀️
Olá, amigo José Carlos!
ResponderExcluirTambém sinto falta de quem escreveu tal vivência poética...
Lindo poema com sentimento outonal de folhas ressequidas mesmo estando numa climática estranha.
Intenso e sentimental.
Tenha dias abençoados!
Abraços fraternos
exatamente isso....ótimo texto, abçs https://www.ananicolau.adv.br/
ResponderExcluirHá uma festa repentina a espreitar este seu texto onde posso ouvir Bach a par de uma leitura que quero degustar também. Escreve-o numa manhã de primavera em que o vento brinca e rodopia e a luz arde em olhos inocentes. As folhas secas que pisa há-de levá-las a ventania juntamente com todas as angústias. Tão belo!
ResponderExcluirTudo de bom, meu Amigo José Carlos.
Um beijo.
Hermoso poema. Te mando un beso.
ResponderExcluirOlá, caro José Carlos
ResponderExcluirDo seu "Diário" traz-nos verdadeiras pérolas, abrindo-nos a
sua biblioteca e deixando-nos à vontade para nos estendermos
ao comprido. O meu caso.:)))
Aprecio Bach, especialmente na sua música sacra interpretada
ao órgão, um grande compositor com tradição musical que já lhe
vinha de trás.
Pelo meio apresenta-nos Bukowski, provocador, que, com o seu Misto-Quente introduz-nos no bas-fond do seu quotidiano, sem cerimónia, mas revelando na sua simplicidade o génio que não foi reconhecido convenientemente.
E eis que Nelson Cavaquinho, músico que nos faz sentir o som
popular da música brasileira, não se exime de pisar as Folhas Secas, que me parecem saídas, pela imagem, do Outono de Vivaldi.
Este seu diário tem muito que se lhe diga, sinto-me envergonhada
pelo meu que continua com as folhas em branco...
Um prazer imenso ler este seu texto pleno de sabedoria. Gosto de
ser surpreendida, pela forma e conteúdo, não tanto por Bukowski,
mas pelo meu amigo Sant Anna.
Desejando sucesso na sua missão com o seu familiar, envio-lhe
afectuosos abraços.
Olinda
Acho que é isso mesmo: o escritor é aquele que surpreende. Que põe cabresto no leitor que o impede de olhar para outro lugar a não ser o texto. Bukowski sempre surpreende. Mesmo sóbrio.
ResponderExcluirBelíssimo texto.
Querido amigão,
ResponderExcluirseu texto é uma verdadeira sinfonia de sentidos e memórias. Cada detalhe da chuva à música, do vento aos livros constrói uma atmosfera sensível e introspectiva, onde o passado e o presente se entrelaçam com delicadeza. Adorei como você mistura poesia, memória e reflexão sobre a escrita, criando um espaço onde se sente, ouve e quase toca cada instante. É profundo, poético e absolutamente envolvente.
Amei!
Abraço 🤗
Nanda
Encantada com seu texto
ResponderExcluiragradeço por compartilhar
conosco.
Bjins e Abraço em Você
e na sua Familia
CatiahôAlc.
Muito belo texto. Consegue, sim, surpreender pela forma e pelo conteúdo.
ResponderExcluirPor vezes também vivo pisando as folhas secas... E agora também chove, mais do que só rasto na janela.
Beijinhos e tudo de bom!
Na vida, oscilamos entre a espectativa e a dinâmica.
ResponderExcluirAbraço de amizade.
Juvenal Nunes
Um texto delicioso. Gostei de ler.
ResponderExcluirBoa semana.
Um abraço.