Finjo não ver o vento balançar
nas rochas nuas, encasteladas,
sobrepostas à delicadeza
da tua taça de rubiácea.
E se ao menos o café parisiense rasgasse
este coração à deriva e colhesse
o malmequer cansado dos dias
convicto, eu desvelaria outras sombras.
Lá a indiferença dos teus afagos
colados à sombra do teu chão,
e perto dos meus lábios, existiria,
na tentação absoluta que tu não vês.
Lá, além das blandícias das peles
e das mulheres, na angústia
de brumas tangíveis,
eu desbarataria a solidão barricada.
Por entre os dedos, resignado,
nada em mim te repele.
Confesso, sobrevivo aos mistérios
do meu café parisiense.
Lá noites estreladas prolongam
a melodia dos teus olhos castanhos,
hálito de anjos, que as palavras criam.
José Carlos Sant Anna,
reeditado
Belíssimo!
ResponderExcluirQue haja sempre melodias na vida!
Beijinhos.
Não adianta fingir não ver o balanço do vento. O café parisiense rasgará o coração à deriva e colherá o malmequer cansado dos dias porque há noites estreladas dentro de uns olhos castanhos que o hálito dos anjos transformaram em palavras. Poema com sombras de um regresso sem sentido ou de uma sedução nunca relatada, onde a inquietude se enrosca no texto. Tão belo e tão intenso, meu Amigo José Carlos,
ResponderExcluirTudo de bom para si.
Um beijo.
O poeta é um fingidor, não é?
ResponderExcluirAdorei o poema. Já disse aos meus amigos blogueiros poetas que
não gosto de comentar poesias, pois prefiro lê-las e deixar suas metáforas vibrarem meus sentidos.
Mas leio todos os poetas que conheço por aqui, e você é mais um de alta estirpe.
Ah, Paris com inúmeros cafés espalhados pelos quartiers onde todo bom parisiense os fins de tardes ou após o trabalho, com `seu coração a deriva` , vai assistir a vida passar ... enquanto isso os poetas revivem FPessoa _ "finge tão completamente.Que chega a fingir que é dor. A dor que deveras sente" rs Muito lindo seu poema. Quero muito voltar ao Café Flore e pedir uma taça do gênero Coffea (a rubiácea), que seu poema provoca.
ResponderExcluirUm abraço, José Carlos.
Eros seu poema é uma tessitura delicada entre o sensual e o melancólico, onde o café parisiense funciona como metáfora e memória. Há uma paixão contida, um desejo não concretizado, mas presente em cada imagem da “taça de rubiácea” à “melodia dos teus olhos castanhos”. O eu lírico caminha entre o sonho e a ausência, sobrevivendo à solidão com beleza e palavra. É poesia que sussurra, sem pressa, o que o coração ainda espera.
ResponderExcluirLindamente escrito
Abraço
Adiar o inevitável??? No fundo, já há uma partida....
ResponderExcluirInteressante...
Beijos e abraços
Marta
Lá o romantismo faz escola e nós, les romantiques, somos
ResponderExcluirconvocados para um Café parisiense, espaço privilegiado para o
desenvolvimento deste lindo poema. E a Lis referiu o Café de Flore,
Flore déesse des fleurs e du printemps, lugar que conheceu tantos
intelectuais e onde a palavra "surrealista" conheceu a luz do dia.
A solidão acompanha-nos e nem mesmo ali, nesse ambiente, com
as blandícias e perfumes e as brumas tangíveis nos vemos livres
dela.
Admiro a sua escrita, amigo José Carlos.
Grande abraço.
Olinda
A atmosfera do café parisiense é inimitável.
ResponderExcluirE o seu excelente poema está impregnado dessa atmosfera.
Boa semana.
Um abraço.
Um poema melancólico recheado de desejos e amor contido.
ResponderExcluirMuito bom!
Abraço, marli.
Olá,
ResponderExcluirNostálgico e apaixonado. Gosto quando a poesia desliza entre os labios e aconchega no coração, Uma bela inspiração.
feliz dia ♥