Imagem Pixabay
Tudo parado.
É inútil
o arrastar-se do caracol.
Sôfrego,
o gastrópode terrestre
corpo mole, cor parda
e concha calcária espiralada
se mexe na avenida movimentada
no sinal, abre e fecha;
abre e fecha; abre e fecha.
Cada saída, um muro;
cada retorno, um círculo.
E a rápida geografia da avenida
nada mais é
do que poesia em estado bruto.
Dos meus alfarrábios,
José Carlos Sant Anna, s/data
Tudo pode virar poesia, não é? Até um pitoresco caracol numa avenida que de geografia concreta, torna-se geografia para um olhar sobre o estar no mundo!
ResponderExcluirEu gostava de brincar com esses caras na infância, o quintal da minha casa era cheio deles!
Eros,
ResponderExcluirpenso, que teu poema é enxuto, contemplativo, e profundamente simbólico traduz em poucos versos uma sensação quase existencial de inutilidade diante da pressa do mundo.
O caracol, figura lenta, frágil e determinada, torna-se metáfora do sujeito contemporâneo que insiste em mover-se mesmo quando tudo parece emperrado, quando toda tentativa de avanço parece fadada ao fracasso. O trânsito que abre e fecha os sinais sem piedade contrasta com a lentidão do gastrópode: é o mundo que não espera, que atropela.
Há um lirismo sutil quando se diz que “cada saída, um muro; / cada retorno, um círculo” talvez um retrato do desânimo cíclico, do esforço que se dobra sobre si mesmo. Mas também há poesia na resistência: o simples fato de o caracol continuar se arrastando, mesmo na avenida veloz, pode ser lido como um ato de sobrevivência e de arte um “poesia em estado bruto”, como o próprio poema afirma. E a última linha
“Dos meus alfarrábios,” é como uma assinatura fantasmagórica, como se o poeta tivesse tirado essa imagem da poeira dos livros antigos, das anotações íntimas, de um tempo em que o sentir ainda se arrastava com a delicadeza de um molusco. É um poema sobre o tempo, o cansaço, a persistência e a beleza que há em continuar, mesmo quando parece inútil. É um poema que ressoa em silêncio, como uma prece sussurrada no meio do barulho.
👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
Abraço!
Lentamente. Muito lentamente. "Como se fossem intermináveis os dias e as luas e o sedentarismo dos antigos nos habitasse", o caracol não tem urgências, a contrastar com o movimento da avenida sem lentidão alguma. A poesia faz-se onde menos se espera e tudo inspira o poeta. Gostei da imagem. Os seus alfarrábios devem ter muitas surpresas.
ResponderExcluirTudo de bom, meu Amigo José Carlos.
Um beijo.
Caracol sofre, hein!?
ResponderExcluirE então numa avenida movimentada, com carros
sempre a passar e os semáforos a cumprir, é dose.
E lá vamos nós como o caracol pelas estradas da
vida, arrastando-nos, sempre na mira de um dia mais
leve, de uma gota de água fresca, de um dia de Sol.
Porque o Sol quando nasce é para todos, dizem. Mas
nem sempre é assim, ou quase nunca. Cada muro, cada
tropeço. Ou conseguimos subi-lo ou temos de percorrer
caminhos infinitos, ínvios, por vezes.
Caro amigo José Carlos, uma poética que traz uma lição,
no seu tom que parece não fazer mossa, mas que nos
obriga a reflectir.
Semana óptima, desejo-lhe.
Beijinhos
Olinda
Merece um kkkkk, poxa, você conseguiu fazer um poema
ResponderExcluirsobre o caracol? Isso é inédito, crônica ainda vai, mas poema
para caracóis?
E ficou o máximo, um bicho que não anda, não grita, não
se mexe e ganha um poema!! Essa você surpreendeu, querido
amigo! E só podia... com esse espírito leve e brincalhão!
"Sôfrego,
o gastrópode terrestre
corpo mole, cor parda
e concha calcária espiralada
se mexe na avenida movimentada"
Maravilha!!! 😄🙋♀️
Beijo, uma boa semaninha
Olá, amigo José Carlos, é sempre muito bom passar por aqui,
ResponderExcluirespaço de cultura e arte, onde tenho a possibilidade de ler um
poema de sua lavra, que deixa um lastro da sua inteligência e
sabedoria. Mas não só isso, deixa um pouco de sua verve e
que pelo seu belo poema me fez lembrar do nosso grande poeta Manoel de Barros.
Votos de um bom final de semana, com saúde e paz.
Grande abraço, amigo.
Pobre caracol, lo imagino en su arrastre mirando la gran avenida y el esfuerzo que supondria su arrastre, originales versos poeta es un verdadero placer leerte
ResponderExcluirUn abrazo
Um pouco de aversão por este molusco.
ResponderExcluirO poema é bonito.
Gostei do poema.
ResponderExcluirO caracol não aprecio muito por ser dos que rastejam ,mas são interessantes carregando devagarinho esse casco duro.
( comentei aqui ,mas acho que se perdeu).
Já li poema sobra cebola, mas sobre caracol? Francamente! rs.
ResponderExcluirQuerido amigo, José Carlos!
Um primor o seu poema sobre o caracol! Simplesmente adorei.
Parabéns pelo seu talento.
Um abraço.
Gostei do belo poema. Imaginei a estrada deixada pelo caracol.
ResponderExcluirBom fim-de-semana!
Beijinhos.
E o trânsito da avenida por vezes anda à velocidade do caracol.
ResponderExcluirHá dias, um até me ultrapassou. E ouvi o clássico "sai da frente palerma"...
Gostei do seu poema, é magnífico.
Traga mais dos seus alfarrábios...
Boa semana.
Um abraço.
Eros aqui para dizer que, mesmo devagarinho, esse caracol é o mestre zen da avenida! Enquanto a pressa domina tudo, ele é o rei da calma, abrindo e fechando sinal como quem dança ao som da própria poesia. Se todo mundo tivesse o ritmo dele, a vida seria menos corrida e muito mais poética e, olha, isso não é só papo de caracol, não!
ResponderExcluirAgora, cadê a poesia poeta?
Abraço ,
Fernanda!
Olá Jose Carlos,
ResponderExcluirBem criativa e divertida a sua poesia sobre caracol.
Confesso que é a primeira vez que li uma poesia do caracol e adorei.
"E a rápida geografia da avenida nada mais é
do que poesia em estado bruto".E as vezes nos sentimos assim, diante da correria do mundo.
O caracol nos ensina a andar mais devagar.
desejo um feliz dia
Fiz um comentário, mas não sei porque não publicou.
ResponderExcluirGostei muito do seu poema sobre o caracol.
As vezes devemos ser igual a ele, devagar diante de tanta correria.
feliz dia
Fiz um comentário, mas não sei porque não publicou.
ResponderExcluirGostei muito do seu poema sobre o caracol.
As vezes devemos ser igual a ele, devagar diante de tanta correria.
feliz dia
Mil desculpas, Bandys, seu comentário não tinha chegado na minha caixa de mensagens. Como se dizia antigamente: quod abundat non nocet. O que abunda não se perde.
ExcluirTenha um bom dia também.
Hoje é feriado em Salvador. Comemoramos a Independência da Bahia.
bjss
Você conseguiu fazer poema com caracol!!!
ResponderExcluirMuito bom.
Você já ouviu falar na proporção divina e número divino?
É um número que se repete na natureza em todos os lugares onde não tem influência humana.
A casca do caracol tem essa proporção.
É um assunto muito maluco, mas é cientificamente provado.
Um abraço!
Tenha um lindo fim de semana.
¿Sabes que los caracoles me trasladan a mi niñez? siempre que veía uno lo ponía entre mis manos y lo acariciaba y le cantaba la canción del caracol.
ResponderExcluirMe ha encantado tu poema, de,muestra una gran sensibilidad, es un placer estar aquí. Ya te dejé enlazado para seguirte.
Un beso y feliz día.