domingo, 30 de novembro de 2025

Meada

 

Imagem Pixabay

A luz. 

Lá, sob a porta,

a perder-se de si 

e, ao fundo, 

a foto em preto e branco

a perder-se de nós


e desaproximam-se no vácuo

as formas da voz. 


E se movem.

 

Daqui eu vejo a imagem imprecisa.

 

O que vês, meu bem?

O que soa estranho?

 

Oh, Odete, que falta faz o que 

não se aprende na escola 


ou nas dobras da lama ou do limo

ou no avesso do instante 


Foi por isso que você voltou? 

Tomo o seu tempo? 


Não me deixe, 

por favor!

 

Tomar o meu tempo?

 

São poucas as linhas da meada


São urdiduras nas palavras medidas

no arcabouço ou no calabouço

a ferir-me desde dentro.

 

José Carlos Sant Anna,

28 de outubro de 2025


segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Fiat lux

 


Entre tantos,

perdem-se olhares

em morros violentados

por armas e drogas

enquanto as ondas do mar

se encontram nos vítreos

dos meus olhos,

sinal de que

se novos meus olhos não estão,

parecem ressignificados

para outras viagens

é a única certeza.

 

José Carlos Sant Anna

6/11/2025






segunda-feira, 3 de novembro de 2025

O grito

 


Cintila a tarde em gozo,

a espuma transborda  

pelos vãos das portas,

transpassa o silêncio,

veste uma página 

em branco 

e se põe a dançar no pátio 

esgarçando a tule

que a veste 

com as pontas dos dedos.

E canta o malho, 

e resfolega o bandoneon 

e transborda a taça 

em macios borbotões. 

Lento o rio oculto da seiva 

flui depois de um grito 

prolongado.

 

José Carlos Sant Anna
    11/outubro/2025.

Um curta no Amanhã

 Imagem Pixabay Outra vez. Escancarei os olhos. Na ponta dos sapatos uma mancha. Se eu pudesse vê-la sem os óculos, não saberia que era ketc...